quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Claudio Almeida

As gravações na colônia Santa Izabel não são apenas para a criação de um documentário, vão muito além disso. Servem para refletir sobre os momentos da vida de cada um de nós. É a emoção que toma conta de toda equipe e dos entrevistados, quando estes relatam as suas histórias e como “venceram” na vida.
Ao chegar à colônia pela primeira vez, percebo um lugar triste, cercado de centros de tratamentos para pessoas com hanseníase, rostos que trazem os sofrimentos do passado, e em algumas pessoas, o alívio de que conseguiram vencer seus principais obstáculos.

No segundo dia, uma emocionante entrevista, que precisei ser forte para não chorar. ao realiza-la, passou pela minha cabeça os momentos alegres e tristes que tive e tirei uma conclusão de que meus problemas não são nada se comparados aos dessas pessoas, e percebi que 50% das coisas que reclamo são desnecessárias ou apenas fazem parte de um simples capricho. As palavras da entrevistada (Dona Antônia) soaram como lição de vida: "Mesmo com a minha doença, o suicídio do meu primeiro marido e os 30 anos que fiquei longe da minha filha, SOU UMA PESSOA FELIZ".







E acreditem: Me tornei uma pessoa melhor com essas palavras e pretendo aproveitar TODOS OS MOMENTOS FELIZES que a vida me proporciona.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Medicina é dedicação


Dr. Getúlio foi nosso segundo entrevistado. Durante seu plantão no hospital da Colônia, este simpático dermatologista nos recebeu na "Casa dos Médicos". Um espaço para onde os médicos vão em seus raros momentos de descanso. Dr. getúlio trabalharia até a manhã do dia seguinte. Com o mesmo empenho que atende seus pacientes, ele nos recebeu e contou o que é a doença, como é contraída e de que forma é combatida, hoje em dia.


Não é fácil. Trabalhar com pessoas tão sofridas exige preparo psicológico. Ele, em um momento de desabafo, contou-nos que quando começou a atender os hansenianos, também acometeu-se de um preconceito vedado, que é originado pela falta de conhecimento.


Mas, com o passar do tempo, mudou a visão que tinha e passou a dedicar-se com tamanho entusiasmo e é um dos médicos preferidos dos pacientes que ainda estão em tratamento. E não é só isso. Aqueles que já se curaram, são tão agradecidos ao carinho e atenção que receberam dele, e dos demais médicos, que ainda o tratam com o mesmo carinho e respeito.

Segunda gravação: Ainda mais emocionante


Após o final de semana prolongado - optamos por não gravar para poder dar continuidade aos outros trabalhos acadêmicos previstos nesta etapa do semestre - retornamos à Colônia no domingo, dia 21/10.


Encontramo-nos em frente à Igreja e logo seguimos em direção ao Museu onde iríamos gravar com o Hélio Dutra (Chamado por nós de Helinho). Ele conta como a vida dele está diretamente ligada à história do local, por meio dos pais, que vieram para o tratamento da doença. Também, Helinho nos falou como a adolescência e infância estão marcadas pelo impacto de morar em um local onde há tanta história de preconceito e de superação.


Helinho é hoje o Presidente do Morhan (Movimento de Reintregração das Pessoas Cometidas pela Hanseníase) se não me falha a memória, a sigla significa isso. Helinho também foi capaz de nos comover por seu empenho, quase irrestrito, ao movimento de reintegração das pessoas que hoje estão curadas, mas ainda marcadas pelo sofrimento que vivenciaram durante todos estes anos.


Legenda: Hélio Dutra, o Helinho, durante entrevista.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Visões e percepções da Rafaela

Por: Rafaela Saliba



O que dizer sobre esta experiência...
Ela tem sido enriquecedora e surpreendente.

Surpreendente porque pude descobrir nas pessoas a vontade e alegria de viver mesmo diante das dificuldades.






Enriquecedora porque me acrescentou muitos valores, entre eles a certeza de que a fé impulsiona o mundo.

Não quero parecer piegas mas tenho a convicção de que não serei mais a mesma depois do documentário Colônia. Levarei comigo para sempre a certeza de que somos agraciados por Deus e dotados de sentimentos nobres, vi que ao contrário do que eu podia imaginar me emocionei com o discurso de muitas daquelas personagens, me identifiquei com outros e principalmente percebi a importância do trabalho em equipe.


Legenda:

Foto 1: Rafaela (verde) e Cibele fazem apuração dos materiais dentro do Memorial que poderão ser usados no doc.

Foto 2: Rafaela e demais integrantes da equipe preparam equipamentos para as filmagens externas!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Memorial - Museu conta história dos hansenianos

Imagens que você vai ver:

Bota ortopédica usada por um paciente que não tinha parte dos dedos do pé, o que dificultava a locomoção.





















Especie de triciclo;

Outra maneira usada pelos antigos pacientes da Colônia, com o intuito de se locomover.











Projetor de cinema
Durante muito tempo, a única opção d elazer na Colônia Santa Izabel era o Cine Teatro Glória (Ainda em funcionamento, mas como centro cultural mantido pela Prefeitura Municipal de Betim).



quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pequeno relato da primeira etapa de gravação.


Por Márcio Antunes
Nossa preocupação, no dia da gravação, era começar o nosso trabalho. O Memorial do Morhan, que fica ao lado do Cine Teatro Glória, possui uma infinidade de pequenos objetos - outros bem grandes como o projetor de cinema usado no cine - que ajudam a contar esta história fascinante!
No mesmo local há uma biblioteca. Não há como descrever. É preciso entrar no Memorial e observar. O que mais me chamou a atenção foi o número de fotografias ampliadas e emolduradas. Expostas nas paredes, refletem um passado rico e personagens e relatos.
Para ajudar a equipe de edição, narramos os objetos (Foto). Enquanto o leandro pegava a melhor imagem, eu ia decsrevendo o que estava sendo filmado. Foi sensacional.


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

E começam as gravações

Por: Edinéia Alves

Depois do contato e pesquisa, começamos com as gravações propriamente ditas. Foi feito um levantamento das pessoas que poderiam ser entrevistadas. A maioria gosta desse tipo de trabalho, de contar suas histórias, de conhecer novos ouvintes para seus casos. Organizamos uma lista com aproximadamente dez nomes de personagens.

No primeiro dia de gravação, 27/set./07, fizemos imagens externas das edificações históricas. No segundo dia, 06/ou.t/07, conversamos com três personagens. Dona Antônia, Sr. Félix e Sr. José André. Foram feias imagens dos objetos do Museu. No terceiro dia de gravação, 07/out./07, fizemos imagens da missa de domingo com participação de alguns personagens escolhidos e moradores em geral.

Legenda foto: O Aluno Lenadro Rodrigues prepara os equipamentos para a gravação das imagens internas do Memorial.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

APURANDO NOSSO DOCUMENTÁRIO

Por: Edinéia Alves

A comunidade de Santa Izabel (região de Citrolândia – Betim) é muito organizada. Isso facilitou o trabalho de apuração e pesquisa do nosso documentário.

O primeiro passo foi entrar em contato com os representantes de associações e organizações que atuam na área. A Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), responsável pela área da saúde no local, foi representada pelo Diretor do Hospital, Dr. Ricardo Chiguero. A Funarbe (Fundação Artísitco-Cultural de Betim) pelo coordenador do Centro Popular de Cultura, Ubiratan Santana. E o Morhan – Movimento de Reintegração do Hanseniano, foi representado pelo seu coordenador e também responsável pelo Museu da Colônia Santa Izabel, Helio Dutra.

As entidades possuem acervo documental e histórico sobre a antiga Colônia Santa Izabel. Histórias de atrocidades e preconceitos vividas pelos moradores e internados atingidos pelo mal de Hansen. Todas as pessoas com as quais conversamos foram muito receptivas ao nosso trabalho, não negando informação e sempre indicando alguma fonte de pesquisa e personagens para compor o documentário.

A minha percepção pessoal com relação ao que ouvimos no período de apuração é que os moradores são pessoas com pouco poder aquisitivo, sofridas, vítimas de preconceito e que guardam seqüelas de uma doença gravíssima que é a Hanseníase ou Lepra. Porém são felizes e querem levar uma vida comum de total integração com a sociedade.

SOB O OLHOS DE SANTA IZABEL

Quando elegeram Santa Izabel para ser a padroeira da comunidade, os moradores depositaram nas mãos da Santa um destino marcado de altos e baixos, alegrias e tristezas, saúde e doença. Muitos não escolheram aquele lugar para morar. Foram trazidos à força para ficarem confinados num sanatório, longe de suas famílias. Apesar de terem sofrido muito e suas histórias serem emocionantes e ponteadas com narrativas chocantes, eles fazem questão de mostrar a superação de seus problemas. Não falam nunca a palavra lepra, porque eles acham pejorativo. Preferem que o lugar onde moram seja chamado de bairro Santa Izabel e não de Colônia. Que o local de tratamento passe a ser chamado de Casa da Saúde.

Mesmo fazendo parte de uma estatística negativa que o coloca entre os bairros mais violentos da cidade, para muitos moradores, Santa Izabel ainda é o melhor do mundo para se viver, apesar de tudo.Mesmo com todas as mazelas reservadas aos moradores de Santa Izabel, eles passam para seus visitantes uma alegria de viver muito grande. Essa alegria é demonstrada desde o início da então Colônia, quando foi erguido, em 1920, um portal com uma inscrição em Latim “Hic Manebimus Optime”, que significa “Aqui vivemos Bem”. Outros traços reforçam essa alegria que persiste em permear a história triste dos hansenianos.

Na década de 40, o Cine Teatro Glória era o mais freqüentado da região. Abrigava exibição cinematográfica, peças de teatro, bailes de gala com orquestra e convidados especiais. Entre um e outro toque de recolher, eles se divertiam, namoravam, levavam uma vida comum e feliz. Numa história mais recente, a Escola de Samba “Acadêmicos de Citrolândia” brilhava na passarela do carnaval de rua de Betim, na década de 80. O Coral Tangarás de Santa Izabel mostra até hoje a força e a alegria de sua voz. Ou seja, eles fazem de tudo para esquecer um passado de penúrias.Parece mesmo que a padroeira Santa Izabel não tira seus olhos protetores daquela gente e insiste em tomar conta de seus filhos.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Equipe

Equipe de produção:
Direção geral: Márcio Antunes
Direção de Fotografia e Fotografia: César Resende
Direção de Arte: Paulo Vitor
Roteiro: Todos
Produção Executiva: Edgar dos Anjos e Carla Fernanda
Pré-produção: Janaina Campos e Edinéia Alves
Edição: Cibele Saliba e Alan Palmer
Câmeras: Rafaela Saliba, Leandro Rodrigues e Risiane Castro
Autoração (Créditos): Paulo Vítor, Cibele Saliba e Alan Palmer
Divulgação: Juliana Karla – Flávia Aguiar
Produção: Núbia Domingues e Cláudio Rodrigues

Coordenação geral: Richardson Pontone

Documentário: O motivo da escolha!

O nosso projeto pretende realizar um documentário ressaltando os aspectos históricos, culturais, e mais recentemente, econômicos, que permeiam um dos mais importantes patrimônios históricos do estado: A Colônia Santa Izabel. O governo de Minas Gerais, na década de 20, criou o mais antigo sanatório para hansenianos do estado. O local é um exemplo notório da política sanitarista adotada pelo país naquela época, direcionada para a erradicação de doenças contagiosas como o mal de hansen, mais conhecido por “lepra”. Tratava-se praticamente de um campo de concentração da saúde, mantido pelo Estado, onde os portadores do contagioso bacilo deveriam ficar isolados preservando a integridade física de toda uma população “não contaminada”.

O local escolhido para a construção do conjunto arquitetônico da colônia foi o terraço do Rio Paraopeba, próximo ao rio Bandeirantes, cujo vale também foi ocupado pela construção. O lugar hoje abriga um dos maiores bairros de Betim, o Citrolândia. Bairro este que se formou justamente pelos familiares dos pacientes internados na colônia, que se alojaram próximo ao local, com o intuito de ficar perto dos familiares doentes, ou simplesmente, por não terem como custear as viagens, que naquela época eram longas e com poucos meios de se chegar ao local. Na época Betim era parte do município de Santa Quitéria, hoje Esmeraldas.
A maneira como foi construído o desenho urbano de Santa Isabel é peculiar e exclusivo de colônias desta natureza, o que reflete a problemática da lepra no início do século passado, a qual resultou em medidas sanitaristas de “cunho profilático”, por não dizer segregador. A Colônia, na época de sua construção, tinha como via de acesso principal a ferrovia que ligava Belo Horizonte a Brumadinho, com uma estação em Mário Campos (Ibirité), próximo do seu portão de entrada. Além da infra-estrutura avançada para a época, foram construídos, ainda, equipamentos de lazer coletivo, como o cine-teatro glória e os clubes recreativos. Refletindo a religiosidade, não poderia faltar a igreja para completar o quadro local. Estes itens fazem parte dos prédios que em 1988 foram tombados pelo patrimônio histórico de Betim.

“A vida cultural na colônia era intensa, sendo que grande parte da mesma girava em torno do Cine Teatro Glória, do Clube Recreativo e do Salão de jogos, situados no pavilhão de Juiz de Fora. Havia sessões de cinema, festivais teatrais, ‘horas dançantes’ e bailes aos sábados e domingos, animados pelos conjuntos de jazz, formados pelos rapazes da Colônia. No Salão de Jogos eram promovidos bingos e jogos que envolviam toda a comunidade. (...) Em torno do Pavilhão havia também um dinamismo intenso. Era o local do ‘footing’, de encontros, onde aconteciam os flertes e os namoros que, muitas vezes, terminavam em casamento e filhos...”
(MENDONÇA E MODESTO in: A memória betinense. Colônia Santa Isabel, rel. p. 39).

A chegada pelo antigo portal, ainda existente, passa primeiro pelo hoje bairro Monte Calvário, na época “saúde”, local onde foram construídos casas e equipamentos destinados aos trabalhadores que atenderiam à colônia. Em seguida, havia uma corrente que separava a referida área dos pavilhões e casas destinadas aos doentes. Esses fatos impulsionaram a montagem de uma infra-estrutura econômica de produção própria, onde foram criadas olarias, serrarias, unidades de produção agrícola para cultivo e criação de animais com fins de auto-abastecimento. Os doentes foram aproveitados como mão-de-obra nos trabalhos de construção civil, reparos, fabricação de tijolos, serraria, agricultura e pecuária.

Hoje, os portadores da doença vivem em um sistema aberto, circulando normalmente junto aos não portadores. O hospital-colônia está desativado. Não existe mais o isolamento compulsório imposto entre as décadas de 30 e 60. Os que desejaram, lá ficaram.

Em 2000, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (FHEMIG) passou a dividir a administração da colônia com a Prefeitura Municipal de Betim. O terreno onde está localizada a colônia, ainda pertence ao estado.

Justificativa
O Conjunto Urbano da Colônia Santa Izabel faz parte do patrimônio histórico-cultural da cidade de Betim e os moradores que nela residem possuem enriquecedoras informações sobre os tristes momentos vivenciados pelos portadores de hanseníase na década de 20.
Situada no município de Betim e foi construída entre 1922 e 1931 para acomodamento de portadores de hanseníase, que ali eram confinados para tratamento.
Seu conjunto arquitetônico segue os modelos da época e em 2000, os 5,5 milhões de metros quadrados foram tombados como Patrimônio Histórico-cultural. Em 2005, o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Betim solicitou à PUC Minas uma pesquisa cujo objetivo era retratar a situação da criança e do adolescente do município. Um estudo comparativo foi realizado pela PUC Minas em Betim. Os resultados demonstraram a região do Citrolândia como a de piores condições sociais no município de Betim e menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região metropolitana de Belo Horizonte.

Considerando a importância histórica e cultural do passado, e os dados recentemente apontados pela pesquisa realizada pela PUC Minas em Betim sobre o presente da Colônia Santa Izabel, tornou-se indiscutível para este grupo de pesquisa e elaboração de documentário experimental a escolha pela Colônia Santa Izabel como cenário e personagem principal de um vídeo que procurará apresentar aos interessados no papel que exerceu (e ainda exerce) na construção da identidade da cidade de Betim.