O nosso projeto pretende realizar um documentário ressaltando os aspectos históricos, culturais, e mais recentemente, econômicos, que permeiam um dos mais importantes patrimônios históricos do estado: A Colônia Santa Izabel. O governo de Minas Gerais, na década de 20, criou o mais antigo sanatório para hansenianos do estado. O local é um exemplo notório da política sanitarista adotada pelo país naquela época, direcionada para a erradicação de doenças contagiosas como o mal de hansen, mais conhecido por “lepra”. Tratava-se praticamente de um campo de concentração da saúde, mantido pelo Estado, onde os portadores do contagioso bacilo deveriam ficar isolados preservando a integridade física de toda uma população “não contaminada”.
O local escolhido para a construção do conjunto arquitetônico da colônia foi o terraço do Rio Paraopeba, próximo ao rio Bandeirantes, cujo vale também foi ocupado pela construção. O lugar hoje abriga um dos maiores bairros de Betim, o Citrolândia. Bairro este que se formou justamente pelos familiares dos pacientes internados na colônia, que se alojaram próximo ao local, com o intuito de ficar perto dos familiares doentes, ou simplesmente, por não terem como custear as viagens, que naquela época eram longas e com poucos meios de se chegar ao local. Na época Betim era parte do município de Santa Quitéria, hoje Esmeraldas.
A maneira como foi construído o desenho urbano de Santa Isabel é peculiar e exclusivo de colônias desta natureza, o que reflete a problemática da lepra no início do século passado, a qual resultou em medidas sanitaristas de “cunho profilático”, por não dizer segregador. A Colônia, na época de sua construção, tinha como via de acesso principal a ferrovia que ligava Belo Horizonte a Brumadinho, com uma estação em Mário Campos (Ibirité), próximo do seu portão de entrada. Além da infra-estrutura avançada para a época, foram construídos, ainda, equipamentos de lazer coletivo, como o cine-teatro glória e os clubes recreativos. Refletindo a religiosidade, não poderia faltar a igreja para completar o quadro local. Estes itens fazem parte dos prédios que em 1988 foram tombados pelo patrimônio histórico de Betim.
“A vida cultural na colônia era intensa, sendo que grande parte da mesma girava em torno do Cine Teatro Glória, do Clube Recreativo e do Salão de jogos, situados no pavilhão de Juiz de Fora. Havia sessões de cinema, festivais teatrais, ‘horas dançantes’ e bailes aos sábados e domingos, animados pelos conjuntos de jazz, formados pelos rapazes da Colônia. No Salão de Jogos eram promovidos bingos e jogos que envolviam toda a comunidade. (...) Em torno do Pavilhão havia também um dinamismo intenso. Era o local do ‘footing’, de encontros, onde aconteciam os flertes e os namoros que, muitas vezes, terminavam em casamento e filhos...”
(MENDONÇA E MODESTO in: A memória betinense. Colônia Santa Isabel, rel. p. 39).
A chegada pelo antigo portal, ainda existente, passa primeiro pelo hoje bairro Monte Calvário, na época “saúde”, local onde foram construídos casas e equipamentos destinados aos trabalhadores que atenderiam à colônia. Em seguida, havia uma corrente que separava a referida área dos pavilhões e casas destinadas aos doentes. Esses fatos impulsionaram a montagem de uma infra-estrutura econômica de produção própria, onde foram criadas olarias, serrarias, unidades de produção agrícola para cultivo e criação de animais com fins de auto-abastecimento. Os doentes foram aproveitados como mão-de-obra nos trabalhos de construção civil, reparos, fabricação de tijolos, serraria, agricultura e pecuária.
Hoje, os portadores da doença vivem em um sistema aberto, circulando normalmente junto aos não portadores. O hospital-colônia está desativado. Não existe mais o isolamento compulsório imposto entre as décadas de 30 e 60. Os que desejaram, lá ficaram.
Em 2000, a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (FHEMIG) passou a dividir a administração da colônia com a Prefeitura Municipal de Betim. O terreno onde está localizada a colônia, ainda pertence ao estado.
Justificativa
O Conjunto Urbano da Colônia Santa Izabel faz parte do patrimônio histórico-cultural da cidade de Betim e os moradores que nela residem possuem enriquecedoras informações sobre os tristes momentos vivenciados pelos portadores de hanseníase na década de 20.
Situada no município de Betim e foi construída entre 1922 e 1931 para acomodamento de portadores de hanseníase, que ali eram confinados para tratamento.
Seu conjunto arquitetônico segue os modelos da época e em 2000, os 5,5 milhões de metros quadrados foram tombados como Patrimônio Histórico-cultural. Em 2005, o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente de Betim solicitou à PUC Minas uma pesquisa cujo objetivo era retratar a situação da criança e do adolescente do município. Um estudo comparativo foi realizado pela PUC Minas em Betim. Os resultados demonstraram a região do Citrolândia como a de piores condições sociais no município de Betim e menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da região metropolitana de Belo Horizonte.
Considerando a importância histórica e cultural do passado, e os dados recentemente apontados pela pesquisa realizada pela PUC Minas em Betim sobre o presente da Colônia Santa Izabel, tornou-se indiscutível para este grupo de pesquisa e elaboração de documentário experimental a escolha pela Colônia Santa Izabel como cenário e personagem principal de um vídeo que procurará apresentar aos interessados no papel que exerceu (e ainda exerce) na construção da identidade da cidade de Betim.