terça-feira, 11 de março de 2008

Sob as bênçãos de Santa Izabel


Sob o Olhar foi notícia em diversos veículos de comunicação da RMBH. Destaque para a matéria feita pela repórter Márcia Maria Cruz, do Estado de Minas. Segue:



Depois de 13 anos fechado, o Cine-teatro Glória voltou a exibir filmes para os moradores da Colônia Santa Izabel, no bairro Citrolândia, em Betim, na Grande BH. Inaugurado em 1934, o cinema foi tombado pelo patrimônio histórico municipal, mas estava inativo, mesmo depois de ter sido reformado em 2005. A reinauguração ocorreu, no última quarta-feira, com a apresentação de Sob o olhar de Santa Izabel, documentário produzido por 15 alunos de jornalismo do Instituto J. Andrade, de Juatuba. “É um sentimento muito positivo ver o cinema voltar a funcionar. Vamos passar outros documentários e filmes”, planeja o coordenador do Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), Hélio Dutra.



Na tarde que antecedeu o lançamento, Risiane de Castro, de 20 anos; Cláudio de Almeida, de 21; e Flávia Aguiar, de 24, acertavam os últimos detalhes para a exibição. Foram tomados todo os cuidados para deixar o espaço aconchegante para as quase 150 pessoas que lotaram o cinema, entre ex-pacientes de hanseníase, familiares, profissionais de saúde que trabalham na colônia e amigos. Risiane e Cláudio fizeram a produção e a divulgação ficou a cargo de Flávia.
A maior parte dos estudantes envolvidos no projeto mora em Betim. Por isso, nasceu o desejo de retratar a colônia que faz parte da história da cidade. “Optamos pela colônia pela importância sóciocultural. Quando ela foi criada, Betim ainda não era município”, lembra o diretor do documentário, Márcio Antunes, de 29 anos.



Pelo fato de a colônia estar intimamente ligada a Betim, o tema contribui para o resgate da memória da região. O documentário dura 30 minutos e traz depoimentos de seis ex-portadores de hanseníase, com idades entre 50 e 90 anos, que passaram pelo internamento compulsório. De 1930 a 1980, os portadores da doença eram privados do convívio social, com o isolamento das casas e dependências onde viviam. Um misto de temor e preconceito fazia com que essas pessoas fossem estigmatizadas.



Embora suspensa por mais de uma década, a relação dos moradores da colônia com o cinema é antiga. As máquinas de projeção do início do século 20 podem ser vistas no Memorial José Adelino, onde são guardados documentos, fotos e outros objetos que contam a história do local. O vídeo foi o trabalho final dos alunos para a disciplina produção de documentários para a TV, do professor Richardson Pontone.


MÚSICA
As histórias e memórias mostram que nem mesmo o estigma é capaz de impedir as pessoas de sonhar. É o caso de Paulo Luiz Domingues, de 75 anos. Ele aparece no vídeo cantando um samba sobre a perda da sensibilidade e sua paixão pelo cavaquinho: “Ao perceber que meu tato eu perdia/ Duas lágrimas rolaram/ Lá se foi minh’alegria./ Logo pensei: o que vou fazer?/ (…) Ela (a música) eu não vou deixar/ Meu caquinho, não vai parar/ Se eu não toco outros deverão tocar”.



Depois de 50 anos na colônia, o sambista se diz apaixonado pelo lugar, embora reconheça que, por morar lá, foi vítima de muito preconceito. Seu samba é um indicativo da relação íntima dos ex-pacientes com a música. Muitos cantaram no coral Os Tangarás de Santa Izabel e emprestaram a voz para a trilha sonora do vídeo. A relação com a música vem desde os primeiros anos da colônia, em 1939, sob a batuta do maestro José Carlos da Piedade.
Paulo começou a perder a sensibilidade em 1970 e, quatro anos depois, suas mãos atrofiaram. No entanto, ele se adaptou à nova condição e, hoje, sem o bacilo da doença, mas com as seqüelas, faz tudo com desenvoltura, inclusive datilografia. Outros três entrevistados que trabalham para melhorar a qualidade de vida na colônia dão depoimentos. A sessão de cinema integrou a programação do 15º Concerto Contra o Preconceito, que durou uma semana e terminou ontem. Outro ponto alto da programação foi o show do cantor e compositor Guilherme Arantes.

3 comentários:

Ana Maria Pinho disse...

Este documentário deveria inspirar um Projeto que estimulasse alunos de todos os estados a fazerem omesmo com as respectivas ex-colonias do seus estados. O trabalho de vcs foi emocionante, digno de um trofeu! aliados a Hélio Dutra meu dileto amigo pessoal que é um midas do trabalho em prol da pessoa atingida pela hanseníase vcs fizeram um trabalho que vale OURO!!!! vamos fz algo para que esta ideia venha a frutificar em todo o pais? e quiça no mundo!

Ana Maria Pinho disse...

Estive em Betim em 2008...e em 2009, nas Mostras do documentario nos concertos contra o preconceito este documentário arranca lágrimas, suspiros de comoção e abre as portas da solidariedade humana..abre em nosso coração alienado no mundo moderno um lugar para reflexão...Minha maior alegria foi conversar com Dona Antonia uma das depoentes e ve-la cantar no coral dos Tangarás..

Ana Maria Pinho disse...

Fui a Betim a convite de Hélio Dutra para conhecer as maravilhas do Concerto contra o Preconceito.apaixonei-me pelo trabalho que vi lá..o documentário então! fiquei maravilhada, mas não tive o prazer de conhecer o grupo, espero ve-los em 2010, ano da eliminação da hanseníase, com um trabalho similar a este pois muitas historias comoventes ainda nos esperam...e podemos celebrar a eliminação da doença mostrando a importancia disto.Trouxe o video de vcs..um presente da dona antonia que muito me comoveu pois ela me doou o cd que era a cópia dela, num total desprendimento caracteristico de quem sofreu e sabe dar valor as coisas que realmente importam, trouxe-o comigo como um tesouro e nas apresentações que faço dentro do contexto historia e hanseniase sempre finalizo com a apresentação do trabalho de vcs...saibam que a emoção é sempre nova nesta historia tão velha...